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São Bento
Um dos Santos muito venerados no Santuário São Miguel Arcanjo, desde a sua fundação e irmão gêmeo de outra grande Santa da Igreja, Santa Escolástica, estamos falando de São Bento. Ele que por volta do ano 480 nasceu na província de Núrsia, na Itália. Agraciado com o berço de uma família dotada de sólida formação cristã, recebeu desde a tenra idade os mais profundos ensinamentos e zelos espirituais. Enviado pelos pais para completar seus estudos na cidade de Roma, ele logo se desgostou daquela situação, tamanho era a imoralidade e a concupiscência que carcomia a capital do Império.
Decidido a conservar a santidade e a pureza, renunciou aos estudos e retirou-se para uma região ‘desértica’, denominada Subiaco, passando a viver numa gruta, junto a um penhasco, de difícil acesso. Neste ambiente geograficamente hostil, viveu em clima de profunda oração e meditação durante 3 anos.
Conta a hagiografia que outro monge, também eremita, que vivia em cima do penhasco, quando o viu, passou a alimentá-lo: através de uma corda, descia para ele alguns alimentos, mas chama a atenção o fato de que outras tantas vezes, milagrosamente, um corvo sobrevoava o vale e vinha até junto da entrada da sua gruta para trazer-lhe, no bico, um naco de pão.
Seu estilo de vida, sua santidade, sua dedicação à oração e à contemplação chamaram a atenção e com o tempo, despertaram o interesse para que outras pessoas desejassem se juntar nesta escola de santidade, como discípulos seus. Eram pessoas que queriam viver seu mesmo estilo de vida.
Apesar de toda austeridade, em pouco tempo, Bento precisou construir 12 mosteiros. Mais tarde, Bento e seus monges se transferiram para o alto de Monte Cassino, já ao sul da Itália. Ali perto, na parte baixa do monte construiu um mosteiro para sua irmã gêmea Escolástica e suas discípulas.
Para organizar tamanha comunidade que ia se formando, foi consultando algumas regras existentes e criando as suas próprias que Bento elaborou e que veio a ser conhecida como a ‘Regra Beneditina’, cujo lema transcende aos séculos: "Ora et labora", ou seja, reza e trabalha, serve como norma geral para os monges de todos os tempos. A vida monacal inspirada em São Bento deve consistir basicamente na oração e no trabalho, e isto faz o monge.
Da sua vida sobejam fatos taumatúrgicos, que vão das severíssimas penitências a que se impunha, aos milagres pitorescos que realizara, às curas de enfermos, de todos humildemente buscava se esquivar, mas, o odor de santidade lhe era imanente.
Já abatido pelas severas penitências, pelo desgaste dos anos e sobretudo pela doença, ele mesmo cuidou de mandar preparar seu próprio túmulo.
Bento morreu, em Monte Cassino, no dia 21 de março de 547, pasmem, de pé, sustentado pelos seus monges!
Sua festa é celebrada na Igreja no dia 11 de julho e, considerando a sua importância e a contribuição tão expressiva de seus monges na cristianização do continente europeu, o Papa Paulo VI, o nomeou patrono da Europa.
A Medalha de São Bento
Destaca-se ao falar de São Bento, a conhecida Medalha de São Bento, tão tradicional e forte instrumento de oração e libertação.
Na medalha de São Bento está gravada uma cruz e, entre seus braços, estão gravadas as letras C S P B, as iniciais das palavras latinas: Crux Sancti Patris Benedicti - "Cruz do Santo Pai Bento".
Na haste vertical da cruz estão gravadas C S S M L, equivalentes às iniciais de: Crux Sacra Sit Mihi Lux - "A cruz sagrada seja minha luz". Na haste horizontal vê-se gravada N D S M D, as iniciais correspondentes a: Non Draco Sit Mihi Dux - "Não seja o dragão meu guia". Já no alto da cruz a palavra “Paz” está gravada também em latim - PAX, que é lema da Ordem de São Bento.
A partir da direita de PAX estão gravadas as iniciais: V R S N S M V: Vade Retro Sátana Nunquam Suade Mihi Vana - "Retira-te, satanás, nunca me aconselhes coisas vãs!" e S M Q L I V B: Sunt Mala Quae Libas Ipse Venena Bibas - "É mau o que me ofereces, bebe tu mesmo os teus venenos!".
Desta forma, a fortíssima Oração da Medalha de São Bento, tem perpassado os séculos!
No verso da medalha está hoje gravada a imagem de São Bento, que traz na mão esquerda o livro da Regra que norteia a vida monacal, e na outra sustenta uma cruz. Ao redor deste lado da medalha está gravada a prece: EIUS IN OBITU NRO PRAESENTIA MUNIAMUR - "Sejamos confortados pela presença de São Bento na hora de nossa morte".
Quando se refere a São Bento é comum encontrarmos sua imagem associada a um cálice com uma serpente saindo de dentro, lembrando de uma das tentativas de envenenamento da qual saiu ileso por milagre divino. Este seu poder de abençoar e lidar com o veneno e a morte, livrando-o do mal que estava incrustrado no coração das pessoas, por vezes próximas dele, que ardilosamente desejavam o seu mal, levaram a comunidade cristã a associá-lo ao Santo da Libertação. Assim, desde o início do nosso Santuário, São Bento tem aqui um espaço muito peculiar de oração e devoção.
fonte Imagem: Canção Nova
fonte Imagem: Canção Nova
Santa Rita de Cássia
Uma Infância cheia de devoção
A pequena periferia de Roccaporena, na Úmbria, foi berço de Margarida Lotti, provavelmente por volta de 1371, chamada com o diminutivo de “Rita”. Seus pais, humildes camponeses e pacificadores, procuraram dar-lhe uma boa educação escolar e religiosa na vizinha cidade de Cássia, onde a instrução era confiada aos Agostinianos. Naquele contexto, amadurece a devoção a Santo Agostinho, São João Batista e São Nicolau de Tolentino, que Rita escolhera como seus protetores.
Mulher e mãe dedicada
Por volta de 1385, a jovem se uniu em matrimônio com Paulo Ferdinando de Mancino. A sociedade de então era caracterizada por diversas contendas e rivalidades políticas, nas quais seu marido estava envolvido. Mas a jovem esposa, através da sua oração, serenidade e capacidade de apaziguar, herdadas pelos pais, o ajudou a viver, aos poucos, como cristão de modo mais autêntico. Com amor, compreensão e paciência, a união entre Rita e Paulo tornou-se fecunda, embelezada pelo nascimento de dois filhos: Giangiacomo e Paulo Maria. Porém, a espiral de ódio das facções políticas da época acometeram seu lar doméstico.
Assassinato do esposo e perdão
O esposo de Rita, que se encontrava envolvido também por vínculos de parentela, foi assassinado. Para evitar a vingança dos filhos, escondeu a camisa ensanguentada do pai. Em seu coração, Rita perdoou os assassinos do seu marido, mas a família Mancino não se resignou e fazia pressão, a ponto de desatar rancores e hostilidades. Rita continuava a rezar, para que não fosse derramado mais sangue, fazendo da oração a sua arma e consolação.
Doença dos filhos
Entretanto, as tribulações não faltaram. Uma doença causou a morte de Giangiacomo e de Paulo Maria; seu único conforto foi pensar que, pelo menos, suas almas foram salvas, sem mais correr o risco de serem envolvidos pelo clima de represálias, provocado pelo assassinato do marido. Tendo ficado sozinha, Rita intensificou sua vida de oração, seja pelos seus queridos defuntos, seja pela família de Mancino, para que perdoasse e encontrasse a paz.
Pedido recusado
Com a idade de 36 anos, Rita pediu para ser admitida na comunidade das monjas agostinianas do Mosteiro de Santa Maria Madalena de Cássia. Porém, seu pedido foi recusado: as religiosas temiam, talvez, que a entrada da viúva de um homem assassinado pudesse comprometer a segurança do Convento. No entanto, as orações de Rita e as intercessões dos seus Santos protetores levaram à pacificação das famílias envolvidas na morte de Paulo de Mancino e, após tantas dificuldades, ela conseguiu entrar para o Mosteiro.
Monja Agostiniana
Narra-se que, durante o Noviciado, para provar a humildade de Rita, a Abadessa pediu-lhe para regar o tronco seco de uma planta, e que sua obediência foi premiada por Deus, pois a videira, até hoje, é vigorosa. Com o passar dos anos, Rita distinguiu-se como religiosa humilde, zelosa na oração e nos trabalhos que lhe eram confiados, capaz de fazer frequentes jejuns e penitências. Suas virtudes tornaram-se famosas até fora dos muros do Mosteiro, também por causa das suas obras de caridade, juntamente com algumas coirmãs; além da sua vida de oração, ela visitava os idosos, cuidava dos enfermos e assistia aos pobres.
A Santa das rosas
Cada vez mais imersa na contemplação de Cristo, Rita pediu-lhe para participar da sua Paixão. Em 1432, absorvida em oração, recebeu a ferida na fronte de um espinho da coroa do Crucifixo. O estigma permaneceu, por quinze anos, até a sua morte. No inverno, que precedeu a sua morte, enferma e obrigada a ficar acamada, Rita pediu a uma prima, que lhe veio visitar em Roccaporena, dois figos e uma rosa do jardim da casa paterna. Era janeiro, período de inverno na Itália, mas a jovem aceitou seu pedido, pensando que Rita estivesse delirando por causa da doença. Ao voltar para casa, ficou maravilhada por ver a rosa e os figos no jardim e, imediatamente, os levou a Rita. Para ela, estes eram sinais da bondade de Deus, que acolheu no Céu seus dois filhos e seu marido.
Veneração de Rita
Santa Rita expirou na noite entre 21 e 22 de maio de 1447. Devido ao grande culto que brotou logo depois da sua morte, o corpo de Rita nunca foi enterrado, mas mantido em uma urna de vidro. Rita conseguiu reflorescer, apesar dos espinhos que a vida lhe reservou, espalhando o bom perfume de Cristo e aquecendo tantos corações no seu gélido inverno. Por este motivo e em recordação do prodígio de Roccaporena, a rosa é, por excelência, o símbolo de Rita.
A minha oração
Rita, grande intercessora das famílias, a ti pedimos verdadeiras graças de conversão sobre aqueles que amamos. Tuas rosas são sinais de salvação, por isso te pedidos a paciência e o perdão, a oração e intercessão. Ajuda-nos de forma concreta nessa luta. Amém!
Santa Rita de Cássia , rogai por nós!
Fontes:
vatican.va e vaticannews.va
Martirológio Romano – liturgia.pt
Liturgia das Horas
Livro “Relação dos Santos e Beatos da Igreja” – Prof Felipe Aqui [Cléofas 2007]
São Miguel Arcanjo
Deus exalta os humildes e resiste aos soberbos, dizem as Escrituras Santas. Quer no Antigo Testamento, quer no Novo, São Miguel foi sempre muito amado e venerado pelo povo de Deus. O Senhor o constituiu guarda e protetor da nação israelita, como se lê no profeta Daniel: “Surgirá Miguel, o grande chefe, o protetor dos filhos do seu povo” (Dn 12,1).
E quando da tomada da cidade de Jericó, São Miguel aparece a Josué e lhe diz: “Eu sou o chefe dos exércitos do Senhor.” Caindo Josué por terra, exclama: “Que manda o Senhor ao seu servo?” Retorquiu-lhe o Arcanjo: “Tira o calçado de seus pés, porque o lugar que te encontras é santo” (cf. Js 5, 14-16).
E ao falar dos séculos futuros e sobretudo do que há de acontecer perto do Juízo final, o anjo enviado por Deus ao profeta Daniel diz-lhe estas palavras: “Naquele tempo surgirá Miguel, o grande príncipe que protege os filhos do teu povo. Será esse um período de angústia tal, que não terá havido outro semelhante desde que existem nações até aquele tempo. Ora, dentre a população do teu povo, serão salvos todos os que se encontrarem inscritos no livro da vida eterna” (Dn 12).
As intervenções de São Miguel em favor do povo de Deus, no Antigo e no Novo Testamento, motivaram da parte da Igreja, desde o princípio, uma especial veneração por esse arcanjo que ela sempre considerou e honrou com um culto especial, como guarda e protetor da família divina no seu peregrinar por este mundo até a casa do Pai. Em documentos oficiais dos Sumos Pontífices e de modo especial no culto litúrgico, Miguel é honrado como protetor e guarda da Igreja e como padroeiro dos agonizantes; também é ele quem leva as almas dos que deixam este mundo ao trono de Deus para o julgamento. A Igreja, de que ele é o protetor e guarda, a família divina, que somos nós, os cristãos, invocam-no como advogado de defesa na vida e na hora da morte.
São Pio de Pietrelcina
Este digníssimo seguidor de São Francisco de Assis nasceu no dia 25 de maio de 1887, em Pietrelcina (Itália). Seu nome verdadeiro era Francesco Forgione. Ainda criança era muito assíduo com as coisas de Deus, tendo uma inigualável admiração por Nossa Senhora e o seu Filho Jesus, os quais via constantemente devido à grande familiaridade. Quando pequenino havia se tornado amigo do seu Anjo da Guarda, a quem recorria muitas vezes para auxiliá-lo no seu trajeto nos caminhos do Evangelho.
Conta a história que ele recomendava, muitas vezes, para as pessoas, recorrerem ao seu Anjo da Guarda, estreitando assim a intimidade dos fiéis para com aquele que viria a ser o primeiro sacerdote da história da Igreja a receber os estigmas do Cristo do Calvário. Com quinze anos de idade entrou no Noviciado da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, em Morcone, adotando o nome de “Frei Pio”; e foi ordenado sacerdote em 10 de agosto de 1910 na Arquidiocese de Benevento. Após a ordenação, Padre Pio precisou ficar com sua família até 1916, por motivos de saúde e, em setembro desse mesmo ano, foi enviado para o convento de São Giovanni Rotondo, onde permaneceu até o dia de sua morte.
Abrasado pelo amor de Deus, marcado pelo sofrimento e profundamente imerso nas realidades sobrenaturais, Padre Pio recebeu os estigmas, sinais da Paixão de Jesus Cristo, em seu próprio corpo. Entregando-se inteiramente ao Ministério da Confissão, buscava, por meio desse sacramento, aliviar os sofrimentos atrozes do coração de seus fiéis e libertá-los das garras do demônio, conhecido por ele como “barba azul”.
Torturado, tentado e testado muitas vezes pelo maligno, esse grande santo sabia muito da sua astúcia no afã de desviar os filhos de Deus do caminho da fé. Percebendo que não somente deveria aliviar o sofrimento espiritual, recebeu de Deus a inspiração de construir um grande hospital, conhecido como “Casa Alívio do Sofrimento”, que se tornou uma referência em toda a Europa. A fundação desse hospital se deu a 5 de maio de 1956.
Devido aos horrores provocados pela Segunda Guerra Mundial, Padre Pio cria os grupos de oração, verdadeiras células catalisadoras do amor e da paz de Deus, para serem instrumentos dessas virtudes no mundo que sofria e angustiava-se no vale tenebroso de lágrimas e sofrimentos. Na ocasião do aniversário de 50 anos dos grupos de oração, Padre Pio celebrou uma Missa nesta intenção. Essa Celebração Eucarística foi o caminho para o seu Calvário definitivo, em que entregaria a alma e o corpo ao seu grande Amor: Nosso Senhor Jesus Cristo; e a última vez em que os seus filhos espirituais veriam a quem tanto amavam.
Era madrugada do dia 23 de setembro de 1968, no seu quarto conventual, com o terço entre os dedos repetindo o nome de Jesus e Maria, descansa em paz aquele que tinha abraçado a Cruz de Cristo, fazendo dela a ponte de ligação entre a terra e o céu.
Foi beatificado no dia 2 de maio de 1999 pelo Papa João Paulo II e canonizado no dia 16 de junho de 2002 também pelo saudoso Pontífice. Padre Pio dizia: “Ficarei na porta do Paraíso até o último dos meus filhos entrar!”.
São Pio de Pietrelcina, rogai por nós!
fonte Imagem: Canção Nova
QUEM É SÃO MIGUEL ARCANJO?
A exclamação “Quem como Deus?” É um grito de humildade e de obediência em defesa dos direitos divinos e consta cinco vezes na Sagrada Escritura: Dn 10, 13; 10, 22;12,1, Ap 12,7; Jd 9. Somente na carta de Judas, Miguel é chamado arcanjo, enquanto São Paulo (1 Ts 4, 16) o designa com esse apelativo, sem o seu nome próprio.
A Igreja, desde os tempos antigos, professou a Miguel um culto especial, chegado bem rápido do Oriente ao Ocidente, onde surgiram importantes igrejas e santuários dedicados aos arcanjos. Os mais célebres são o santuário de Monte Santo Ângelo sobre o Gargano e o de Mont-S. Michel-au Péril-de Mer na Normandia. Pio XII proclamou Miguel patrono dos radiologistas.
Várias são as funções atribuídas a Miguel. É chama “turiferário”; “psicagogo”, isto é, guia das almas ao Juízo Divino; “pescador de almas”, por isso vem frequentemente representado por uma balança na mão. Mas a missão principal do arcanjo é aquela de protetor da Igreja e defensor da cristandade.
Recordou-nos ainda, não faz muito tempo, João Paulo II, peregrino ao Santuário de São Miguel no Gargano: “Estou feliz de encontrar-me entre vocês, à sombra deste santuário de São Miguel Arcanjo, que há quinze séculos é a meta de peregrinação … Neste lugar, como já fizeram no passado tantos do meus predecessores na cátedra de Pedro, eu também vim para venerar e invocar o Arcanjo Miguel, para que proteja e defenda a Santa Igreja num momento em que é difícil professar um autêntico testemunho cristão com compromissos e sem acomodações.
Viva e nunca interrompida a visita de peregrinos ilustres e humildes que, da alta Idade Média até os nossos dias, fez deste santuário um lugar de encontro de orações e de reafirmação da fé cristã.” João Paulo II também disse o quanto a figura do Arcanjo, que é protagonista em tantas páginas do Antigo e do Novo Testamento, deve ser sentida e invocada pelo povo e quanto a Igreja tem a necessidade da sua celeste proteção: dele, que vem representado na Bíblia como o grande lutador contra o Dragão, o chefe dos demônios na dramática descrição do Apocalipse: a história da queda do primeiro anjo, que foi seduzido pela ambição de se tomar como Deus. Daí a reação do Arcanjo Miguel de reivindicar a unidade de Deus e sua inviolabilidade.
Embora fragmentárias, as notícias da revelação sobre a personalidade e o papel de Miguel são muito eloquentes. Ele é o arcanjo que reivindica os direitos inalienáveis de Deus. É um dos príncipes do Céu, o protetor de Israel, de onde sairá o Salvador. Agora o novo povo de Deus é a Igreja. Eis a razão pela qual essa o considera como seu próprio sustentador em todas as suas lutas para a defesa e a difusão do Reino de Deus sobre a Terra. É verdade que “as portas do inferno não prevalecerão”, segundo a afirmação do Senhor (Mt 16,18), mas isso não significa que esteja isenta das provas e das batalhas contra as investidas do maligno. Nessa luta, o Arcanjo Miguel está ao lado da Igreja, para defendê-la contra todas as iniquidades do século; para ajudar os fiéis a resistir ao diabo que, como leão a rugir, procura a quem devorar. A essa luta nos reporta a figura do Arcanjo Miguel, a quem a Igreja, seja no Oriente quanto no Ocidente, nunca cessou de tributar um culto especial.
Todos recordam a prece que, anos atrás, se rezava ao final da Santa Missa: Sancte Michael Arcangele defende nos in proelio; “daqui a pouco, a repetirei em nome de toda a Igreja”.
As aparições de Miguel tiveram um papel importante na vida e na singular missão de Santa Joana D’Arc, a Virgem de Orleans, a libertadora da França da invasão inglesa, que assim testemunhou diante dos juízes no processo movido contra ela: “foi Miguel quem vi diante dos meus olhos e não estava só, mas acompanhado por anjos do Céu. Eu os vi com os olhos físicos tão bem corno vejo vocês. E, quando me deixaram, chorei e teria gostado que me levassem com eles”.
São Francisco de Assis, nos informa Tomás de Celano, repetia frequentemente que se deve honrar em modo mais solene o Beato Miguel, porque é responsável pela apresentação das almas a Deus. Por isso, em honra de São Miguel, entre a festa da Assunção e a sua, jejuava com a máxima devoção quarenta dias. E dizia: “cada um, para a honra do tão glorioso príncipe, deveria oferecer a Deus uma homenagem de louvor ou qualquer outro presente particular”.
(textos originais extraídos do LIVRO DEVOCIONÁRIO A SÃO MIGUEL ARCANJO – Editora Canção Nova)
Nossa Senhora do Apocalipse
Nossa Senhora do Apocalipse foi escolhida para ser a protetora do Santuário São Miguel Arcanjo. A denominação ainda é pouco conhecida dos brasileiros, com pouca referência nos livros marianos.
O Padre Roberto é devoto de Nossa Senhora das Graças. Um dia, quando se dirigia ao presbitério para fazer suas orações, veio em seu coração o nome de Nossa Senhora do Apocalipse, mesmo sem saber que existia esta homenagem e este título mariano.
Ele consultou várias pessoas, inclusive alguns religiosos, e ninguém tinha ouvido falar desta denominação. O padre só encontrou alguma coisa vagamente na internet.
Um mês antes da instalação do Santuário, Padre Marcos Ribeiro de Almeida, viajou em nome da Diocese de Jacarezinho para participar de um Curso em Maringá. Providentemente naquela cidade era realizada uma feira internacional de artesanatos, e encontrou uma imagem de Nossa Senhora do Apocalipse.
Ele ligou imediatamente para o Padre Roberto, que viajou no mesmo dia para comprar a imagem, que era oriunda do Equador. “É como se Nossa Senhora estivesse dizendo: eu quero ficar aqui com este título”. relata o sacerdote.
Para surpresa do padre Roberto, a imagem – com cerca de 30 centímetros, era exatamente do jeito que ele tinha imaginado.
Se no livro do Gênesis, a mulher cede à tentação da serpente, agora é Maria que tem o domínio sobre a tentação.
(texto retirado da Revista do Santuário)
Nossa Senhora do Apocalipse:
uma abordagem histórica
Pe. Rosinei Toniette
Reitor e Administrador do Santuário
“Apareceu, em seguida, um grande sinal no céu: uma mulher revestida do Sol,
a lua debaixo de seus pés e, na cabeça, uma coroa de doze estrelas.”
Ap 12,1
Desde a sua ‘inauguração’ em 29 de setembro de 2012, o Santuário São Miguel Arcanjo, em Bandeirantes – PR, chama a atenção de seus fiéis e peregrinos por estar também consagrado à proteção de Nossa Senhora do Apocalipse. Muitas perguntas e indagações chegam constantemente sobre esta devoção: de onde vem, como surgiu, desde quando existe, por que este título, e outras, são certamente questões que despertam o interesse diante desta imagem singular, que até então não era conhecida, quem dera invocada como é por muitos dos que hoje frequentam este santuário.
Pe. Roberto Morais de Medeiros grande devoto de Nossa Senhora das Graças, que idealizara e acompanhara a edificação do Santuário, num de seus momentos de oração teve uma locução interior, onde lhe veio fortemente a invocação “Nossa Senhora do Apocalipse”. Sem conhecer tal título ou devoção procurou descortiná-la, mas não encontrara ninguém e mesmo na Rede Mundial de Computadores não havia muitas informações. Há um mês da inauguração do Santuário um sacerdote amigo encontrou providencialmente em uma exposição uma imagem de Nossa Senhora do Apocalipse.
Pe. Roberto não mediu esforços para conquistar esta imagem de 30 centímetros que hoje faz parte do acervo do Santuário, como ele mesmo descreve: “era como se Nossa Senhora estivesse dizendo: eu quero ficar aqui com este título”.
Assim, a imagem de Nossa Senhora do Apocalipse foi entronizada no Santuário, recordando que como outrora cedendo à tentação da serpente a mulher caiu no pecado, agora, Maria, a nova Eva tem domínio sobre a tentação e pode esmagar a cabeça da serpente tentadora.
O livro do Apocalipse
Antes de abordar a imagem e a devoção a Nossa Senhora do Apocalipse, convém destacar aquilo que parece óbvio: este título mariano procede de um livro Bíblico: o Apocalipse de São João.
O Apocalipse foi uma ‘carta’ escrita pelo Apóstolo São João, já no final de sua vida, próximo do ano 100, destinada às Igrejas da Ásia Menor. Diante da perseguição romana, eram tempos difíceis e sombrios para todos, sobretudo para os cristãos. O próprio São João, que era bispo de Éfeso, foi deportado para a Ilha de Patmos por ordem do imperador Domiciano (81-96). O distanciamento da Ressurreição e Ascensão de Cristo e a considerada demora para o cumprimento das profecias: a segunda vinda do Cristo, fazia que os cristãos fossem ainda mais hostilizados pelos judeus e mesmo caíssem no desânimo.
Uma vez no exílio, sem outras possibilidades, São João dedicou-se a escrever uma carta para animar e confortar os cristãos das comunidades da Ásia, tão perseguidos.
Para que sua Carta não levantasse suspeitas ou não fosse barrada pelos romanos, ele adotou um estilo de escrita usual entre os judeus desde o exílio da Babilônia (587 - 535 a.C.), o gênero apocalíptico, do grego “apokálypsis” que significa “revelação”. São João longe de pretender dar uma descrição antecipada do final dos tempos ou do que viria a acontecer, apresenta, numa linguagem figurada para despertar a atenção dos destinatários, a narrativa do que estava acontecendo, de como Deus estava agindo na história dos homens.
Enfim, o Livro do Apocalipse não diz a princípio dos fatos futuros, mas sim do momento presente do Povo de Deus, trata-se de uma revelação sobrenatural, velada sob símbolos, representando o passado, o presente e o futuro da Igreja, deixando claro que o sofrimento, o combate, a perseguição, são certos, não conseguiremos nos esquivar deles jamais, assim como não conseguiremos também nos esquivar de um aparente fracasso humano, dizemos aparente, pois o Apocalipse deixa claro que a salvação e a vitória final sobre o mal, o pecado e a morte estão selados no Sangue do Cordeiro nascido do ventre da Virgem revestida de Sol que deu a Luz.
Assim, ao falarmos de Apocalipse devemos estar certos que Deus é o Senhor da História, e mesmo que nossa vida se realiza entre uma eminente luta do bem e do mal, a caminhada da Igreja seja constante combate entre Cristo e Satanás, a vitória e o triunfo são certos aos justos e fiéis. “Estas palavras são dignas de fé e verdadeiras, pois o Senhor, o Deus que inspira os profetas, enviou o seu Anjo, para mostrar aos seus servos o que deve acontecer muito em breve” (Ap 22, 6).
O Grande Combate
No capítulo 12, o Livro do Apocalipse narra como que em síntese o ato final da longa história do povo de Deus iniciada no Jardim do Éden, quando foi apresentada a grande promessa de um Salvador a partir da descendência da Mulher: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela; esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3, 15). Trata-se de um texto que deve ser interpretado, primeiramente num sentido eclesiológico: a Igreja peregrina que sofre, é perseguida, mas que tem a força de Jesus e do Espírito Santo de Deus para vencer as armadilhas do mal; depois num sentido mariológico: Maria, Mãe da Igreja que caminha é perseguida é enfrenta o mal. No entanto, para impedir o cumprimento da promessa divina, Satanás iniciou uma batalha implacável contra todos os que estavam do lado de Deus.
Com as revelações apocalípticas encontramos diante das constantes lutas e intensos combates a certeza final da vitória nesta guerra contra Satanás. O texto bíblico nos ilumina neste momento:
“Então apareceu no céu um grande sinal:
uma mulher vestida com o sol,
tendo a lua debaixo dos pés
e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas.
Estava grávida
e gritava em dores de parto,
atormentada para dar à luz.
Então apareceu outro sinal no céu:
um grande Dragão, avermelhado como de fogo.
Tinha sete cabeças e dez chifres
e, sobre as cabeças, sete diademas.
Com a cauda, varreu a terça parte das estrelas do céu,
atirando-as sobre a terra.
O Dragão parou diante da Mulher
que estava para dar à luz,
pronto para devorar o seu Filho,
logo que o desse à luz.
E ela deu à luz um filho homem,
que veio para governar todas as nações
com cetro de ferro.
Mas o Filho foi levado para junto de Deus e do seu trono.
A mulher fugiu para o deserto,
onde Deus lhe tinha preparado um lugar,
para que aí fosse alimentada
durante mil duzentos e sessenta dias.
Houve então uma batalha no céu:
Miguel e seus anjos guerrearam contra o dragão.
O dragão lutou, juntamente com os seus anjos,
mas foi derrotado;
e eles perderam seu lugar no céu.
Assim foi expulso o grande dragão,
a antiga Serpente, que é chamado Diabo e Satanás,
o sedutor do mundo inteiro.
Ele foi expulso para a terra,
e os seus anjos foram expulsos com ele.
Ouvi então uma voz forte no céu, proclamando:
"Agora realizou-se a salvação,
a força e a realeza do nosso Deus,
e o poder do seu Cristo.
Porque foi expulso o acusador dos nossos irmãos,
aquele que os acusava dia e noite
perante nosso Deus.
Eles venceram o Dragão pelo sangue do Cordeiro
E pela palavra do seu próprio testemunho,
Pois não se apegaram à vida:
até deixaram-se matar.
Por isso, alegra-te, ó céu, e todos os que nele habitais.
Mas ai da terra e do mar,
porque o Diabo desceu para o meio de vós
e está cheio de grande furor;
pois sabe que lhe resta pouco tempo”.
Quando viu que tinha sido expulso para a terra,
o Dragão começou a perseguir a mulher
que tinha dado à luz o menino.
Mas a Mulher recebeu as duas asas da grande águia
e voou para o deserto,
para o lugar onde é alimentada,
por um tempo, dois tempos e meio,
bem longe da Serpente.
A serpente, então,
vomitou como um rio de água atrás da Mulher,
a fim de a submergir.
A terra, porém, veio em socorro da Mulher:
abriu a boca e engoliu o rio
que o Dragão tinha vomitado.
Cheio de raiva por causa da Mulher,
o Dragão começou a combater o resto dos filhos dela,
os que observam os mandamentos de Deus
e guardam o testemunho de Jesus
e pôs-se em pé na praia do mar.”
Uma devoção fundamentada na bíblia
Longe de abordar a evolução ou história da devoção e piedade mariana, destaca-se que durante os primeiros séculos do cristianismo, os Santos Padres da Igreja comumente entendiam a mulher do Apocalipse como uma imagem da Igreja; já a veneração mariana quanto a interpretação da Mulher do Apocalipse são registradas a partir do século IV, mas a veneração específica de Maria nesta forma só se torna tangível no período medieval. Uma interpretação não menospreza a outra, pois Maria é considerada a Mãe de Deus e a Mãe da Igreja, logo não há contradição em ambas as interpretações, mas sim complementam-se entre si. E assim como a Igreja gera Jesus para o mundo, este foi o papel de Maria.
Certamente a piedade e a devoção à Virgem Maria ganhou grande impulso com o decorrer dos séculos e desenvolveu-se sobremaneira com o movimento da Reforma Católica – século XVI – respondendo assim à Reforma Protestante, iniciada por Martín Lutero. Neste período, a arte se torna forte aliada da expressão das verdades salvadoras das Escrituras e da Tradição, pois era o instrumento mais fácil para atingir grandes multidões.
A “mulher” apareceu a São João “revestida do sol”, com “a lua debaixo dos seus pés” e “na cabeça uma coroa de doze estrelas”. Desde os primórdios, sobretudo nos meios populares, a ‘mulher’ do Apocalipse é considerada a Virgem Maria, pois aparece ‘revestida de sol’, ou seja, revestida de Deus tal como a reconhecemos desde a anunciação do anjo sempre circundada pela luz e cheia da graça de Deus. Na linguagem apocalíptica, a veste resplandecente de Maria traz à tona todo o seu ser: Maria é a ‘cheia de graça’, obra-prima plasmada pelo amor de Deus, que é luz (1Jo 1, 5) e reflete em todo o seu ser a luz do ‘sol’ que é Deus.
Ao afirmar que a mulher reluzente possui “a lua debaixo dos seus pés”, afirma-se que o Mulher reluzente está sobre o pecado, sobre a noite e a escuridão. Maria está assim, associada à vitória de Jesus Cristo, seu Filho, sobre o pecado e sobre a morte.
Sobre a cabeça da mulher revestida de sol há uma coroa de doze estrelas indicando que a Virgem Maria está no centro do Povo de Deus. A “coroa de doze estrelas”, certamente está relacionada com o fato de seu Filho ser um Rei, como era a tradição dos povos, sobretudo na dinastia de Davi. O Rei tinha uma Mãe e a ela era atribuído o título de “Rainha”. A coroa da “mulher” apocalíptica revela seu status real: trata-se da Rainha do Céu, cujo domínio se estende para todo o povo de Deus. O símbolo das “12 estrelas” representa as 12 tribos de Israel e os 12 apóstolos do Cordeiro, sob as quais a “mulher” exerce sua autoridade.
Grávida, a mulher leva no seu seio Cristo e deve dá-lo à luz para o mundo, por esta missão sublime é perseguida e sofre a oposição do grande dragão vermelho. O dragão procura devorá-la em vão, porque Jesus, através da sua morte e ressurreição, subiu para Deus e sentou-se no seu trono. Por isso o dragão, derrotado de uma vez para sempre no céu, orienta os seus ataques contra a ‘Mulher’ que é apoiada pela luz e pela força de Deus.
A Mulher dá a luz a um menino! Este menino é ameaçado pelo dragão, que é identificado como o Diabo ou Satanás, que quer devorá-lo. Assim, este menino é levado ao Céu e a mulher foge para o deserto. Neste interim, ocorre uma grande ‘Guerra no Céu’ na qual os anjos coordenados pelo arcanjo Miguel – o guardião dos filhos de Israel (Dn 12, 1) – expulsam o dragão. O Dragão não se dá por vencido, ataca então a Mulher, que recebe um par de asas para escapar e fugir deste. Frustrado o dragão inicia uma guerra contra "os remanescentes de sua semente’, identificados como aqueles que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus Cristo.
Após a ascensão de seu Filho Divino, São João enfatiza a fuga da mulher para o “deserto”. Na sagrada escritura o “deserto” faz alusão à um lugar seguro, protegido pela presença divina (cf. Ex 3,18; 4,27; 7,16). É um “lugar” – como o próprio São João diz – “fora do alcance da face da serpente” (Ap 12, 14). Para esta nova vida, a Mulher recebe um par de asas. As “asas de águia” que a mulher recebe indicam o cuidado que Deus tem em encaminhar-nos para junto Dele, pois a águia é a ave que voa mais alto. Seu vôo simboliza a jornada para o Céu. Seu par de asas recorda também sua dimensão celestial e doravante angelical: Mãe dos Anjos.
A mulher vai a um lugar “fora do alcance da face da serpente”, ainda aí, Satanás continua tentando destruí-la, e vomita contra ela “um rio de água”. Vislumbra-se aí uma possível alusão às várias blasfêmias que Satanás faz contra a “Mulher”, trata-se do confronto que continua a existir entre Maria Santíssima e Satanás. Deste confronto, sabe-se que a cabeça de Satanás sairá esmagada (Gn 3,15).
Por fim, “os que observam os mandamentos de Deus e guardam o testemunho de Jesus” são também parte da descendência da “mulher”, Mãe do Messias. Aquela que foi dada aos pés da cruz ao discípulo como Mãe exerce aí sua maternidade espiritual de todo o povo de Deus.
Assim destacamos e enfatizamos a figura de Maria como a Mulher do Apocalipse, a Virgem Revestida de Sol ou para nós: Nossa Senhora do Apocalipse. Queremos agora observar como se desenvolveu a devoção a Maria sob este título e como chegou até nós.
A Imagem de Nossa Senhora do Apocalipse
Interessante notarmos que desde muito cedo se desenvolveu em algumas comunidades religiosas o apreço à Imaculada Conceição de Maria, fazendo com que este tema fosse objeto de discussão durante muitos séculos, mas fosse também objeto de representação em imagens, figuras, gravuras, afrescos, etc...
É certo que as descrições de Nossa Senhora do Apocalipse e suas representações estão entre as mais antigas do devocionário mariano, no entanto também é certo que, o título ‘Senhora do Apocalipse’ não aparece nos escritos, manuais, devocionários, etc mais antigos. Fato é que, o título, procede a ilustração proposta pelo Livro e até mesmo a própria devoção, pois, é de se crer que o povo de Deus, por fé ou por inspiração divina, ao olhar para uma gravura de Maria pisando a cabeça da serpente a invocassem como protetora contra os ataques do mal muito antes que a designassem como Senhora do Apocalipse.
Recordamos assim, que a imagem de Nossa Senhora do Apocalipse figura em sua descrição e apresentação entre as mais antigas da Igreja e percorre os séculos. Desde a descrição feita por São João na Ilha de Patmos, registrada no Livro do Apocalipse no capítulo 12, ao longo dos séculos, diversas meditações e ilustrações mantiveram viva a imagem da Mulher atacada pelo dragão que foge e pisa a cabeça da serpente. Posteriormente, entre os séculos X a XII, já aparece em alguns escritos, onde é descrita com as doze estrelas na cabeça, o sol e a lua aos pés, e, numa outra cena épica, é descrita a Virgem recebendo um par de asas para fugir do espreito do dragão.
Algumas gravuras do século XV apresentam a Senhora do Apocalipse vestida de sol a enfrentar o dragão de sete cabeças e outras composições do início do século XVI apresentam a Virgem com Asas a elevar-se imponentemente sobre a besta-fera. Diversos outros afrescos apresentam a Virgem com asas hora flutuando em meio as nuvens, hora pisando a cabeça da serpente, hora cerceada de anjos.
Com o advento da chamada Reforma Protestante, muitos meios de uma contra-reforma ou de uma reforma Católica foram propostos, e entre estes, destacou-se a revitalização da devoção à Virgem Maria, a Imaculada Conceição: “Per Mariam ad Iesum” – Por Maria a Jesus. Era uma forma momentânea, mas prática e eficaz de catequese!
Com a descoberta do novo continente no final do século XV e a necessidade de sua ‘colonização’ no século XVI e seguintes não foi diferente: era necessário implementar ferramentas que favorecessem a evangelização e abrissem caminhos em meio aos gentios o mais rápido e habilmente possível.
A arte sempre foi uma boa alternativa: a música, o teatro, a poesia, a oratória, a pintura, etc., foram e são grandes aliados na ação missionária da Igreja. Podemos afirmar que estamos falando de um momento único na Histórica das Américas e do Cristianismo, pois com o surgimento das cidades vão se entrelaçando relações sociais e econômicas, marcadas por uma profunda religiosidade, principalmente mariana.
Frente aos desafios da evangelização daquele momento, espalhar e fortalecer a devoção à Virgem Conceição, mostrando-a aos fiéis como Mãe Intercessora e Protetora contra os fenômenos da natureza que costumavam afetar todos os habitantes, era uma excelente estratégia de atrair e aproximar as pessoas para o Deus de Jesus Cristo, e propô-la ainda como Mãe que nos ajuda, nos defende e nos faz vencer nesta luta constante contra o mal que nos faz sofrer, certamente era uma receita infalível além de verdadeira.
Defendendo a especial graça concedida por Deus à Virgem Maria, em 1661 o Papa Alexandre VII afirmou que: “a alma de Maria, desde o momento de sua criação, foi preservada do pecado original pela ação do Espírito Santo”, e três anos mais tarde permitiu a celebração do Ofício e da Missa da Imaculada Conceição como um preceito, com o qual a crença foi consolidada entre os fiéis de lingua espanhola e através dos quais chegou até nossa América.
Em nossa América, os franciscanos cuidaram de orientar e divulgar a devoção à Virgem Maria Imaculada, celebrando-a a 08 de dezembro, conforme calendário de festividades de um Sínodo realizado em Quito. Podemos dizer que aqui está o marco da devoção a Nossa Senhora na América.
Enquanto se estabelecia uma discussão profunda e teológica sobre o tema, os artistas espanhóis se esforçavam por encontrar uma imagem que ilustrasse convenientemente o mistério inexplicável. Para difundir a doutrina, era necessário ter uma representação compreensível aos olhos das pessoas! Foi assim que conceitos marianos da idade média deram origem às mais simples e palpáveis expressões, da mulher mais pura, toda bondosa (cf. Ct 4,7), ornada com os atributos da mulher apocalíptica (Ap 12, 14) mas que concretiza a profecia inicial de pisar a cabeça da serpente (Gn 3, 15).
Cunhou-se nesta perspectiva, pelas mãos do artista Francisco Pacheco, em Sevilha, no início do século XVII o protótipo da imagem da Virgem ornada com os símbolos apocalíticos como a lua, os raios solares, as estrelas, o triunfo da batalha (Cf. Ct 15, Ecl 16, Gn 17). Seu protótipo exerceu grande influência na iconografia da época, contudo, com o passar daquele século esta representação passou por diversas reinterpretações, percorrendo um caminho que os mais interessados pelo surgimento da Virgem do Apocalipse poderiam dedicar-se com maior afinco, que fogem aos interesses neste momento, desde a obra Pacheco, passando por Miguel de Santiago até chegar a Bernardo de Legarda,
Neste processo destacamos duas imagens que apontam para o que virá a ser a Imagem de Nossa Senhora do Apocalipse, a primeira, uma pintura feita para o convento de Santo Agostinho em Quito, que apresenta a Virgem em dimensões naturais, em pé sobre a lua, com a coroa reluzente de doze estrelas ornando seus cabelos soltos, vestes longas brancas e azuis, como que descendo com o pé direito a pisar a cabeça de uma serpente entre as nuvens, este gesto é acompanhado do levantar discreto dos braços para a direita, a fim de manter o equilíbrio, dando-lhe um ar sereno (segundo os especialistas esta representação recorda obras primas de Alonso Cano). Uma outra imagem foi realizada pelo próprio Miguel de Santiago, que retrata a Virgem Imaculada, tendo uma meia lua aos seus pés, ainda que com um rosto juvenil se curva para pisar a cabeça de uma serpente. Ao curvar-se para pisar a serpente, destaca-se nas costas da Virgem um par de asas, temos aí, pela primeira vez, com os detalhes todos presente, a apresentação e a representação da Virgem Imaculada do Apocalipse, acolhida com grande carinho sobretudo nos meios mais populares.
Um famoso escultor chamado Bernardo de Legarda, a partir de um pedaço de pequeno tronco de madeira, esculpiu policromada uma imagem de 30 centímetros da Virgem Imaculada, dotada de asas, que em 07 de dezembro 1734, foi entronizada no altar central do Convento de São Francisco em Quito. A data aqui destacamos por indicar que fora esculpida e entregue tendo em vista a grande festa do dia 08 de dezembro – a festa da Imaculada Conceição, logo tinha como primeiro intento representar a Imaculada Conceição.
Esta é considerada, conforme pesquisas recentes, a mais antiga escultura que representa a Virgem Alada do Apocalipse – esta escultura é conhecida como Imaculada Conceição de Legarda e está preservada ainda hoje no Convento de São Francisco em Quito no Equador. Peculiaridades desta imagem, a roupa e a leveza dos movimentos rítmicos e ondulados, que criam a impressão de uma Virgem dançando enquanto pisa uma serpente chamam a atenção dos homens de ontem como de hoje.
Não é de se admirar que esta representação da Virgem Alada – dotada de Asas como um Anjo – causou um grande impacto entre os cristãos do lugar e sua veneração logo se espalhou, e muitas outras imagens foram reproduzidas e se espalharam, atravessando fronteiras, inclusive sendo enviadas para a Europa, fazendo um caminho inverso ao da arte até então.
Recordando: a escultura original foi concebida como uma invocação da Imaculada Conceição e é venerada ainda hoje no altar-mor da igreja de São Francisco em Quito e convém destacar que é "a junção de duas devoções: a devoção a Imaculada e a Assunção da Virgem ao Céu."
Com o passar do tempo, a imagem de Nossa Senhora Alada começou a ser reconhecida como Nossa Senhora do Apocalipse.
Observando atentamente, nota-se que a Virgem do Apocalipse esculpida por Legarda tem o movimento de quem suavemente desce da lua, para pisar com o pé esquerdo a cabeça da serpente que, presa por uma corrente de prata à mão direita da Virgem, procura inocuamente fugir. Outros detalhes se somam: a longa túnica branca é tomada por brocados de ouro; um xale de brocados floridos adorna os ombros da Virgem, uma capa azul marinho com estrelas douradas cravejadas que é sustentada pelo braço direito cai suavemente envolvendo a sua cintura, ao mesmo tempo que esvoaçante, indica agilidade de quem sai às pressas para o deserto, fugindo do dragão. A parte interna da capa é de cor vermelha viva, indicando aquela foi resgatada das garras do dragão. Um diadema envolve a cabeça e se abre, simulando os raios do sol indicando segundo São Bernardo, o esplendor da glória que o Divino Filho transmitira à Mãe, tendo em cada haste uma estrela.
Em um reconhecido Sermão proferido em 08 de dezembro de 1737, o Cônego Ignácio de Chiriboga, na Catedral de Quito condena o ataque da serpente no livro do Gênesis e destaca a figura de Maria como a vencedora do réptil peçonhento – a "mulher bonita vestida de sol" que aparece no Apocalipse é a Virgem Maria que libertou o mundo do dilúvio do rio do pecado. Assim, em Quito, a festa da Imaculada Conceição de Maria, desde o princípio do século XVIII era comemorado no dia 08 de dezembro como a festa da Virgem do Apocalipse.
No andar do século XVIII, com o crescimento das cidades, com o aumento da população, também crescia infelizmente as situações e oportunidades de desprezo à conduta cristã. Diante desse caos, a efígie mariana apocalíptica exerceu um papel pedagógico: onde a figura da Virgem Maria com a coroa reluzente na cabeça, com roupas esvoaçantes, que esmaga a cabeça da serpente, indicam uma promessa esperançosa do estabelecimento de uma nova ordem baseada na justiça de Deus graças à intervenção da Virgem Imaculada Conceição.
A Virgem do Apocalipse aparece pois, como ‘co-redentora’ de toda a raça humana, aparece ainda vitoriosa diante dos fiéis com força para reconciliar conflitos humanos e derrotar mais uma vez a serpente que é causadora de todo erro.
Podemos considerar a Imagem de Nossa Senhora do Apocalipse como a precursora da Imagem de Nossa Senhora Imaculada Conceição cujo dogma foi ratificado em 1854, por meio da Bula Ineffabilis Deus, do Papa Pio IX.
O Culto
A festa de Nossa Senhora do Apocalipse ou da Senhora da Imaculada Conceição acontece de 29 de novembro a 07 de dezembro e tem a grande celebração no segundo sábado de dezembro, no Santuário São Miguel Arcanjo, com a grande festa, Maria, Senhora do Apocalipse, passa à frente.
Não cessemos de suplicar com confiança filial a sua ajuda: «Ó Maria, concebida sem pecado, intercede por nós que a ti recorremos», na firme esperança que a Virgem Imaculada nos ajudará a vencer as dores e os sofrimentos presentes. Abrirá as comportas do céu, donde jorrará rios de água viva para todos os que tem fé e esperam n’Ela.